domingo, 16 de agosto de 2015

PORTO ALEGRE SEGUE SENDO UMA BELA CIDADE, APESAR DOS PROBLEMAS

Apesar de as autoridades não conseguirem cumprir suas metas, deixando a cidade com um ar de descuidada, apesar de parte da população contribuir com uma imagem de local relaxado com bueiros constantemente entupidos, eu te amo Porto Alegre. Mesmo que teus parques estejam quase transformados em bosques inóspitos e perigosos correndo o risco de serem cercados. Mesmo que tuas reformas necessárias demorem séculos e que em algumas áreas haja injustiça e violência, segues sendo o mesma belo e surpreendente porto no qual ancorei em 1970, meu porto alegre.
Na quinta-feira, eu olhava, desconsolado para as intermináveis obras de restauração vê o Mercado Público, atingido por um incêndio há mais de dois anos. A placa marca o fim das obras para 7 de Julho de 2014; passou-se um ano e sete dias.

Mauro  aprendeu a tocar piano pequeno e era a sua segunda vez no Mercado
Foi quando ouvi numa música oriunda de um piano instalado no Centro do Mercado. Compenetrado, o marceneiro aposentado Mauro Noronha, 72 anos, passava os dedos com habilidade pelas teclas. Natural de Canoas, costuma dedilhar o piano que aprendeu a tocar ainda pequeno. Era sua segunda vez no Mercado. Ele costumava tocar no piano que havia na Estação Rodoviária. Constrangido, afirmou que o gerente da Rodoviária tirou o piano livre do local porque alguns espectadores costumavam dar gorjeta ao músico acidental e considerava que isso não era legal. Distraído, até esqueci da demora da reforma que esconde o teto com feios tecidos pretos.

domingo, 9 de agosto de 2015

UMA LEMBRANÇA NO DIA DOS PAIS

Eu me lembro o tempo todo do meu pai, que se transferiu para outra dimensão em 2003. Sua imagem ficou intocada como se ele ainda andasse por aí. Quando chega perto de fevereiro - ele nasceu no dia 22/2/1922 - e no começo de agosto, a lembrança e a saudade dele me vêm ainda mais forte. Principalmente da época em que eu era criança.
Naquele tempo, na Vila de Seival ainda não havia energia elétrica Nossa maior diversão era ouvir as histórias que meu pai contava.
Havia gelo do lado de fora das vidraças do velho sobrado. O vento balançava as folhas das casuarinas. Diante da lareira, sobre pelegos, nos nos sentávamos, meus irmãos, primos e eu, para ouvir os causos. Alguns davam medo por causa do escuro da noite tornado menos assustador pelas luzes fracas dos lampiões e das lamparinas. Eram histórias com tons de comédia ainda que algumas falassem em almas de outro mundo. Algumas histórias eram só engraçadas como relato a seguir.

" O velho caminhava pelo corredor na Campanha. Seguia por uma estradinha de areia quando encontrou algo estranho no chão. Logo descobriu que era uma mala de garupa, de couro, com uma das alças rebentadas. Ele foi até a subidinha da estrada para ver se enxergava quem havia perdido aquela mala cheia de dinheiro. Nem lhe passou pela cabeça ficar com aquelas notas e moedas. Aguardaria, porque o dono azarado voltaria para buscar.
O homem foi para casa e determinou à mulher:
- Minha velha, achei isto na estrada. Guarda a mala em cima do guarda-roupa que o dono há de voltar, e a gente devolve.
Os olhos da velha brilharam.
- Mas que esperança! Tu não vê, meu velho, que isso é presente de Deus? Vamos reformar este rancho, comprar mais umas vacas e ainda vai sobrar para uma viagenzinha de trem até Porto Alegre.
- Tu tá louca, mulher. Nós vamos devolver. O que não é nosso não é nosso.
- Tá bom, meu velho. Tu estás certo. Mas precisas estudar mais. Amanhã tu vais pra escola, vai ser bom pra ti.
Como a esposa tinha concordado com ele na questão da mala, não achou justo discordar dela de novo. De manhã, a mulher foi na frente e disse que o marido estava esclerosado e que insistia em voltar a estudar. Pediu à professora que aplicasse a palmatória por nada, que assim ele desistiria.
Enquanto o marido estava na escola, a mulher foi à venda, comprou grande quantidade de farinha, azeite e açúcar e fez uma fornada de bolinhos de chuva, espalhando-os pelo telhado e no chão desde a porta do rancho até a porteirinha na entrada. Dali a pouco, chega o velho, chateado pelas palmatorias que levou e que determinaram o seu afastamento da escola. Antes que se queixasse da professora, olhou para aquela quantidade de bolo frito pela casa.
- Olha só, meu velho que coisa estranha. Veio uma manga de chuva de bolo frito aqui em casa - disse a velha.
Uma semana depois, dois cavaleiros perguntaram ao velho se ele sabia de uma mala de garupa que tinham perdido.
- Pois eu achei na estrada e guardei pra devolver. Vamos ali em casa.
- Mulher, esses são os donos daquela mala que eu achei. Pega lá e devolve.
- Que mala, meu velho? Tu tá caducando. Não existe mala nenhuma, disse a mulher enquanto olhava para os desconhecidos e fazia um sinal discreto, girando o indicador acima da própria orelha.
- Mas, mulher, tu não te lembra? Foi naquele mesmo dia em que eu fui pra escola, a professora me encheu de bolo nas mãos e quando eu voltei tinha chovido bolinho por toda a parte.
Os dois homens se olharam, se despediram rapidamente girando as rédeas dos cavalos e desapareceram.

Obrigado por tudo, meu querido pai, Walter Vieira Nunes.